Espaço a serviço da sonoridade na poesia pulsante em diversidade de imagens. Para ler com consciência, bom humor e o coração em chamas. Apreciem com Imoderação.

Monday, March 27, 2006

Ofício Melodia Sensorial



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TRÊS DESEJOS

Eu quero mais do seu sorriso
como se não fosse censurado
quem de nós saiu magoado?
pelo que dissemos antes
ouvindo o que não era preciso

Eu quero um toque de ilusão
como se tivéssemos presentes
quem de nós foi indiferente?
pelo que sentimos antes
estraçalhando o nosso coração

Refrão
Os desencontros são desiguais
enquanto o amor for pra valer
de tanto querer e pedir mais
nossos desejos são em três
e entre nós é pra valer

Eu quero um desejo no olhar
como se fossemos amantes
quem de nós segue adiante?
pelo que se diz culpado
partindo sem nos perdoar

Eu quero esquecer os erros
como se estivessem errados
quem de nós vive do passado?
pelo que fizemos antes
de nos amarmos por inteiro

Refrão
Os desencontros são desiguais
enquanto o amor for pra valer
de tanto querer e pedir mais
nossos desejos são em três
e entre nós é pra valer

ZERO BALA

Verso
Quando o sol
descansar no horizonte
serafins vão dispersar
um gole cigano do seu mau olhado

trafego por um amor desmanchado
destinado a coadjuvar
seu egoísmo mastodonte
num besteirol

Quando a voz
consentir a quem cala
silenciando um lamento
ou a trilha sonora de cada garganta

desatino algum mal que me espanta
crio um novo momento
quero amor zero bala
tinindo em nós

Refrão
zero bala e cheio de bossa
se o que nos dá prazer
atormenta de fome e consome nossa juventude
zero bala e cheio de bossa
são os revezes da vida
na viva inquietude o reverso de tantas virtudes

DEVERES MODERNOS (Para alguém que se foi)

Meu bem
esqueça o próprio umbigo
coração quer um ombro amigo
quilômetros de atenção

bem sei
desbravamos nova aurora
e o destino nos levou embora
fez-se o senhor da razão

suba as ladeiras da alma
num vaso de mágoas vadias
nas esquinas suspira o acaso
esquece da dor e lhe acalma

mergulhe na teia da vida
que o futuro insiste em tecer
esbarre em meu olhar seguro
pra manter sua alma aquecida

Refrão
Lá vem você
no tilintar dos sonhos que eu lhe dei
se era um sopro de vida nem sei
lá vem meu bem
com o sorriso maroto de alguém
que sinaliza medonho
é reluzente de sonho
talvez eu sei

meu bem
a luz dos deveres modernos
em paz com seu ventre materno
quer fôlego e proteção

acorde no sonho fecundo
madrugada refez a aurora
o garoto no fim da estrada
é um anjo do novo mundo

UM DEDO PARA AMAR

Eu lhe ofereço o polegar
pra você fisgar um braço
mas se me der um abraço
tens um corpo pra morar

cada macaco no seu passo
o compasso vai adiantar
faço hora em meu disparo
corro para lhe encontrar

eu lhe concedo o desejo
que acende em seu olhar
e se tudo mais incendiar
atendo e faço que não vejo

cada dedo em minha mão
traçou um rio pra navegar
quer ancorar meu coração
nas águas que você trilhar

Refrão
disfarço os dias
brinco nas rodas
rutilo nos sonhos
desarmo o suspiro
folgo nas horas
viro um vampiro
soluço nas flores
desperto meu sol
quebro nas ondas
acerto nas cores
reforço meu céu
conserto o espírito
e fecho meus olhos
pra você me beijar

eu lhe convenço no altar
do eterno amor presente
eis a dádiva convincente
cabe a quem souber amar

cada máscara desfigurada
traz um rosto em seu lugar
somos figuras mascaradas
no barco que a vida zarpar

SANTO AMOR MESTIÇO (Para Soteropolis)

Se o coração estiver em brasa
meu bem não queira controlar
lençóis inquietos
vorazes discretos
ferinos afetos do corpo a casa

na mulata doida aranha Rastafari
amor meu emaranhado moleque
chamego diuturno
sonho de consumo
meu dendê, meu fumo pelos ares

Refrão
meu Brasil é a mestiça soma
de sabor e pranto
vendo o mar sorrir pela Baía
de todos os santos

Se o menino falar com Iemanjá
os peixes dão a volta ao mundo
sabotando a fome
desejo é seu nome
aparece e some na beira do mar

tenho sim o santo amor mestiço
pimenta trigueira sabe temperar
aroma sossegado
balaio aveludado
o anjo ousado lá do meu cortiço

Refrão
meu Brasil é a mestiça soma
de sabor e pranto
vendo o mar sorrir pela Baía
de todos os santos

porque nossa fé não tem raça
porque nossa alma tem graça
porque nossa gente não passa
porque nossa voz tem fumaça
porque nossa força tem massa
porque o amor jamais é farsa

ALTA VOLTAGEM

Há tanto espaço
no vácuo que você deixou em minha vida
unhas compridas, doses a mais
servindo águas profundas

faz tanto estrago
rodar na estrada mais um beco sem saída
voz de partida, estilhaços reais
soluçam mágoas imundas

nós vamos dar outra desculpa
nas horas cheias, nos lugares vagos
no jeito pago por nossa culpa
vale o descaso

Refrão
São as viagens em alta voltagem
que me tiram do sério e do chão
não há destino, tampouco passagem
sem meus braços em sua direção

nós não pedimos o que nos separa
nós não nos unimos em vão
se o fogo-serpente rastreia sua tara
e lhe entrega ao meu coração

Verso
Há muito tempo
na perfeição dos erros que passam batidos
som distorcido, prece em paz
reserva boas companhias

nós vamos dar outra opinião
nas horas cheias, nos lugares vagos
o silêncio no lago da solidão
vale a disputa

FLORES NA VIA SACRA

Amar antes do vício
amar depois da guerra
silêncio é só o início
bom cabrito não berra

amar sem restar sobras
amar sem fazer cena
ser pau pra toda a obra
às vezes vale a pena

amar antes da culpa
amar depois do crime
pediremos desculpa
nada mais nos redime

amar sem compromisso
amar com propriedade
na doença e no dó disso
na saúde e na saudade

sem você fiquei sangrando
só ao sangrar fico sabendo
se o silêncio está sobrando

Refrão
acenda a luz eterna/ onde estou
acenda a luz eterna/ onde estou
a escuridão me deletou

Verso
amar por ser sagrado
amar se for maldito
no prédio condenado
no templo esquisito

amar a face oposta
amar o mesmo lado
façam suas apostas
roto ou esfarrapado

sem você fiquei sobrando
só ao sobrar fico sentindo
se a solidão está somando

ALGUÉM SEM NINGUÉM

Por ter a lição merecida
sem seu doce castigo
sem ter você comigo
despedaço meus anjos
e o céu me foi perdido

por ter o deserto glacial
sem seu calor humano
sem ter andor profano
despeço-me dos planos
e seus preciosos delitos

por tão anônima solidão
sem seu carinho perto
sem ter o alinho certo
desfaço minhas malas
e o resto deste mundo

Refrão
Alguém sem ninguém
qual o mal que isso tem
qual o mal que isso faz
se é que isso faz bem

pelo eterno anti-horário
sem seu olhar preciso
sem terminar em riso
dispensei meus motivos
e seus lábios onde estão

por ter as obras erradas
sem seu personagem
sem ter sua coragem
disso que partilhamos
e de sonhos lhe trazem

Refrão
Alguém sem ninguém
qual o mal que isso tem
qual o mal que isso faz
se é que isso faz bem

UM CÁLICE DE SOLIDÃO (Para Ricardo)

Minha letra miúda
desprezo do olhar
livros de auto-ajuda
não irão lhe salvar

meu gole indiviso
hábito a se perder
falso dente do juízo
deixa-nos a sofrer

meu imenso vazio
dupla insensatez
longe corre seu rio
a vertente se fez

Refrão
Hoje o sol nos aquece e não há calor
hoje a vida humana não nada a favor
rende-se o amigo na solidão da alma
hoje o índio tão jovem abandona a taba
hoje o céu nos protege, amanhã desaba
finda a dor-tormenta que não se acalma

minha cruz trivial
urgente redenção
oculto descomunal
seu caro coração

meu visto fraterno
disperso chegar aí
tudo mais é eterno
por você e por vir

Refrão
Hoje o sol nos aquece e não há calor
hoje a vida humana não nada a favor
rende-se o amigo na solidão da alma
hoje o índio tão jovem abandona a taba
hoje o céu nos protege, amanhã desaba
finda a dor-tormenta que não se acalma

FLOR DE SEDUÇÃO

Nós fomos tão ausentes
nos braços da solidão
hoje almas dependentes
por amor e por paixão

boca quente e carnuda
beijos que não tem fim
tal qual laranja graúda
cai do pé só para mim

mulher flor de sedução
vênus passeia comigo
entre pés, seios e mãos
não corro mais perigo

Refrão
Do paraíso até o céu
com você eu quero estar
com o beijo para adoçar
da boca provar o mel

Nós somos tão perfeitos
no limiar das carícias
servidas no mesmo leito
raro ninho de delícias

tez morena inseparável
êxtase do bem querer
seu olhar é indecifrável
faz até o mudo gemer

olhos verdes mareados
lume navega em mim
seu corpo é meu aliado
roseira do meu jardim

Refrão
Do paraíso até o céu
com você eu quero estar
com o beijo para adoçar
da boca provar o mel

AMORZINHO BOM

Refrão
Que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
como é sincero o carinho
de uma grande paixão

que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
girar o mundo bem juntinho
segurando a sua mão

Verso
Sou de você e você de mim
tudo porque

o amor nunca tem hora
nem dia pra acontecer
quando chega se demora
só o amor é pra valer

sou de você e você de mim
tudo porque

o amor quando devora
deixa a gente sem comer
olho gordo vai embora
fica então o bem querer

fiz um final feliz

Refrão
Que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
como é sincero o carinho
de uma grande paixão

que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
girar o mundo bem juntinho
segurando a sua mão

ÁGUA BATENDO NO QUEIXO

Nina
guarde o beijo para os comerciais
desejo é a jaula de dois animais
Nina
esqueça as flores e os diamantes
e da eternidade terna dos amantes
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
feche os olhos e abra seu coração
coragem é o meio de locomoção
Nina
espante a poeira do velho retrato
e o passado feito de gato e sapato
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
garanta uma vaga ao nosso amor
solidão é o frio roubando calor
Nina
viva as custas da emoção infinita
e das verdades que nunca são ditas
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
queira o abraço e não a despedida
audaz é o senhor de cada partida
Nina
ligue o rádio e peça nossa canção
e o amor irá voltar com toda razão
Nina
tão bom quando acaba bem

Refrão
Não maltrate nosso amor
sei que está saindo dos eixos
com água batendo no queixo
na correnteza da dor
não lhe torture, por favor

SOFRENDO AOS PÉS DA SANTA

Partiu meu coração e foi embora
deixando-me a sós com a solidão
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o sentimento transformou-se em maldição

traiu minha confiança e saiu fora
calando-me a fala com o silêncio
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o desatino fez de um homem seu resquício

devassou meu viver e foi adiante
remindo-me o pecado no inferno
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o suplício breve e envilecido fez se eterno

fadou minha alma e está distante
restando-me a metade pelo meio
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
a desilusão da vida atingindo-me em cheio

Refrão
Senti na carne o fruto proibido
senti na alma a glória florescer
e aos pés da santa vivo a sofrer
vesti o manto da eterna súplica
despi o pranto num santo viver
e aos pés da santa vivo a sofrer

santificado seja o fim da dor
bem aventurado será o amor

Ofício Swing Intelectual



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MALANDRO DE OCASIÃO

Refrão
Barba de bode quando bate se sacode
barba de bode quando bate se sacode
barba de bode quando bate se sacode
não sobra um fio do bigode

Verso
cheio de manha o malandro falou
andei devagar minha vida parou
está tirando é onda dessa situação
o banzé enguiçou na contramão

venha morena
cuidar do meu negócio
minha empresa não tem sócio
e eu preciso de uma mão

venha morena
entrar nessa jogada
é coisa séria e planejada
dum malandro de ocasião

Refrão
Barba de bode quando bate se sacode
barba de bode quando bate se sacode
barba de bode quando bate se sacode
não sobra um fio do bigode

JOGO DE CINTURA

Refrão
Cintura meu povo! segura no jogo
tendo pêlo em ovo "o gato" vai se coçar
Cintura meu povo! segura de novo
"jacaré" abre a boca é pra nos devorar

Verso
Tem "nego" vivendo com o dinheiro dos outros
tal qual gigolô do nosso país
querendo levar uma fatia do bolo
forrando a carteira o malandro me diz

Tem "nego" que promete e não vai cumprir
o povo percebe não é bobo não
chega de conversa pra boi dormir
o papo da gente é consciência e razão

Refrão
Cintura meu povo! segura no jogo
tendo pêlo em ovo o "gato" vai se coçar
Cintura meu povo! segura de novo
"jacaré" abre a boca é pra nos devorar

Verso
Tem "nego" demais escondido no armário
do tipo que manda na situação
recebe a bolada da mão dos otários
negociando a sorte da nossa nação

Tem "nego" de fora mandando aqui dentro
fazendo visita a qualquer hora
o povo percebe não é bobo não
e manda esses "nego" de volta pra fora

Refrão
Cintura meu povo! segura no jogo
tendo pêlo em ovo o "gato" vai se coçar
Cintura meu povo! segura de novo
"jacaré" abre a boca é pra nos devorar

"PIMBA" NA GORDUCHINHA

Refrão
"Pimba" na gorduchinha!
"pimba" na gorduchinha!
levando a vida nesse bate bola
amarelo rola e é verde na linha
"pimba" na gorduchinha!
"pimba" na gorduchinha!
nossa galera com todo respeito
é bola no peito e cai redondinha

Verso
a vida é essa arte de driblar a ilusão
de seguir a intuição que um dia eu tive
melhor esquecer o castelo de sonhos
quem vive de sonho, com sono é que vive

a esperança é o samba da imaginação
põe a bola em campo pra gente jogar
num gingado com garra e sabedoria
nesse tal dia a dia de quem sabe lutar

bola pra frente
com alma bamba e sangue quente
nenhum malandro vai nos enrolar
bola pra frente
muda de banda e joga com a gente
vem fazer parte desse time popular

Refrão
"Pimba" na gorduchinha!
"pimba" na gorduchinha!
levando a vida nesse bate bola
amarelo rola e é verde na linha
"pimba" na gorduchinha!
"pimba" na gorduchinha!
nossa galera com todo respeito
é bola no peito e cai redondinha

TADINHA

Refrão
Tadinha de mim, tadinha
tô querendo carinho, querendo beijinho
meu bem não tá afim
tadinha de mim, tadinha
gostosa, manhosa, morena formosa
meu bem não tá afim

Verso
Meu bem tá cansado
já virou de lado
hoje não tem chamego
que vontade meu nego!

tão gostoso é o carinho
de dormir juntinho
se querendo bem
que saudade neném!

despertar assanhado
um sorriso safado
é a pura danação
que maldade patrão!

Refrão
Tadinha de mim, tadinha
tô querendo carinho, querendo beijinho
meu bem não tá afim
tadinha de mim, tadinha
gostosa, manhosa, morena formosa
meu bem não tá afim

Verso
No momento de amor
tem que ter o calor
do nosso chamego
que vaidade meu nego!

esquece do futebol
aqui no baby-doll
de olho no ataque
que é tarde meu craque!

deixa a loura gelada
a morena indomada
é desejo e paixão
que beldade campeão!

SABER DE NÓS

Como pensar em não lhe ter
se eu desabar no bem querer
cubro você de poesia

deixo o meu corpo se perder
vem me abusar por merecer
dispersar da calmaria

sei
nem tudo será como antes
respirávamos o mesmo ar
sei
essa fome de sentimentos
minha boca a lhe devorar

Refrão
Deixa pra lá
libera endorfina na horizontal
da boca menina abusa sem dó
na doce bobeira feito carnaval
é pitada de sal sabendo de nós

Verso
viver do encontro marcado
em seus caracóis delicados
quando eu chegar

e ver o lume verde-perolado
quero um sorriso abençoado
beijo à luz do luar

sei
nem tudo será como antes
desejo em plena luz do dia
sei
essa fome de sentimentos
pedindo uma cama macia

Refrão
Deixa pra lá
libera endorfina na horizontal
da boca menina abusa sem dó
na doce bobeira feito carnaval
é pitada de sal sabendo de nós

SWING NA MARESIA

Verso
Retrógrado acomodado
seu costumeiro conchavo
faz nossos castelos ruírem
sem líder, cem crimes, sem filme
o futuro esquece de saber

pedra calada
como sentido de nada
futilidade fóssil de eterna temporada
sem swing, sem timbre, sem calibre
pra assentir o sol nascer

indigesta moral
contando versões carcomidas no divã
para nossos honestos
só serviu a carapuça da Ku-klux-klan

esquálida consciência
glutona em tempo de vacas magras
deixando os filhos serem metralhados
sem início, sem vícios, sem indícios
da vida nos pertencer

fábulas de incompetência
esperam do povo sua audiência
consciência por um pingo de decência
sem grilos, cem quilos, sem mamilos
pra sugar nosso poder

robustos leões
tiranizam o ar que ventila o pensamento
para nossos honestos
a democracia é imprevista no orçamento

Refrão
maré baixa ou maré alta
se é maré o que nos assalta
sambando contra a maré de azar
sem faltar o swing na maresia

balanço, samba, swing na maresia
balanço, samba, swing na maresia

PRIVILÉGIO NA CRUZ

Verso
É tão leviano
preso a um tamborilar
no despertar de tiranos
em farrapos humanos
um contra-senso vadio

bem feito no sonho
ledo engano
um pesadelo risonho
oferece belas aberrações
por um preço sadio

não há fastio
na encosta do rio
dele se espera o milagre
nele se encerra o vinagre
de vinho, o peixe e o pão

copiando
o que divinamente foi criado
na mensagem vende semelhança
na imagem quanta discrepância
faz bem ao ego da evolução

crianças programadas
que obedecem a seus pais
mil bestas teleguiadas
nem desconfiam os demais

Refrão
De quem será
o privilégio na cruz
quando a fé terminar
se essa luz se apagar
e desde já
cutuquem Jesus
que ele sabe o que faz
com quem sabe demais
sem saber de nada

PIEDADE (Para Soteropolis)

Verso
Faz do chão
que o concreto desata
um beijo do camaleão
traz o brinde das águas
na primeira que passa
é nordeste verão

faz do sim
um clarim da liberdade
se o sol nasce de graça
almas verdes de árvores
no silêncio do mármore
é nordeste verão

faz do amor
o estopim da felicidade
namorados se entendem
corações compreendem
a promessa de um beijo
é nordeste verão

Refrão
Piedade
tem de quem passa
à direita da praça
caminha na solidão

piedade
que a vida é ingrata
folga o nó da gravata
alegra meu coração

Verso
faz do sonho
um cinema da realidade
canta o nobre ambulante
em seu carrinho dançante
melodia e pipoca na praça
é nordeste verão

faz do povo
o refúgio da humanidade
onde amigos conversam
e conhecidos dispersam
alegria sorrindo na gente
é nordeste verão

TROPICANIBALISMO

Há tempos
medindo meu fim
o destino é uma festa funesta
e comemora com tiro na testa

pode ser
nova bossa desjejua antropofágica
discriminação no país do candomblé
ouvido burro é cultura em extinção

Há horas
sofrendo de mim
nem o esqueleto pede samba
é molambo que se amocamba

pode crer
espécie humana de clima tropical
imaginação num intelecto reciclável
traz no trio-elétrico sua renovação

Refrão
mas se o carnívoro vegetar
não há o que perder
não há o que ganhar
devoro o ostracismo
meia-boca no jantar

se o carnaval encarnar
não há o que perder
não há o que ganhar
encaro o descarado e
aproveito pra sambar

Verso
Há vozes
zombando de nós
é o milagre provocando azia
ou consumismo versus poesia

pode ver
no sorriso mulato bem misturado
dar fino trato ao cancioneiro do dia
é palco popular de toda inspiração

OLHO DE VIDRO

Romeu pede honra
que a gente não vende
não joga na lama
e na grama mais verde
arruma-se a cama

Romeu pede zelo
ao que cuida do filho
do pai zela tão bem
vem caminho tranqüilo
no balanço do trem

Romeu pede esmola
que emprego não tem
não se vive de brisa
avisa o homem de bem
esse sabe onde pisa

Romeu pede medo
que a polícia não vem
não coíbe a maldade
usurpa a tarde tão zen
la dona impunidade

Romeu pede alma
ao que senta no escuro
no oblíquo da vista
só conquista no mundo
o coração do artista

Romeu pede luz
que a cadeira é elétrica
é a verdade sem osso
e o avô caroço sapeca
tal carne de pescoço

Refrão
Se o globe trotter se quebra
aos cacos um olhar entrega
nas retinas o vítreo relance
nem Romeu, nem romance
serenata que a vida é brega
e merece uma nova chance

MATINÊ DO DEBOCHE

Nós somos papa-defuntos
biscateando um escalda-pés
defumamos feito presunto
e sepultamos quem vier

Nós temos o engasga-gato
nas sobras de um rega-bofe
servido "ao bicho no prato"
e envelhecido no Orloff

Nós somos os borra-botas
dos maiorais salta-pocinhas
da cabriola a uma chacota
mesmo saco pra farinha

Nós temos quebra-costela
cego ao cuidado pata-choca
virar as costas se esfacela
na mão hipócrita pipoca

Nós somos a pomba-gira
dando tiros a queima-roupa
os alvejados fora da mira
e carniceiros pura polpa

Nós temos o louva-a-Deus
sambando com pés-de-pato
descalços mil no solo ateu
a fé lhes compra sapatos

Refrão
Populacho alcoviteiro
a voz do santo maloqueiro
ele se compra por baixo
no zunido zombeteiro
das moscas no açucareiro
caos e ótica do escárnio

do escracho ao deboche
do escracho ao deboche

QUOTIDIANO VAGABUNDO

Verso
Fiz meu fardo de bodega
um trago às verdades insinceras
quão insensatas são megeras
na veneta de um maluco comedido

fiz meu pranto de seresta
um samba é tudo o que me resta
se nosso amor vive ás cegas
na memória de um boêmio iludido

fiz meu rumo de pinguela
um passo florindo em primavera
brilho da dança de quimeras
na vanguarda do poeta amanhecido

Refrão
Sou quotidiano vagabundo
gingado miúdo e sentinela
tamborilando meu destino
fui afinado em dó "teatino"
malandro tem toda cautela
do verbo é a rosa na lapela
arrepio o cangote feminino
vou quotidiano vagabundo

Verso
fiz meu palco de comédia
um aplauso às delícias inseguras
fagulhas de alegria sem cura
na alma de um malandro destemido

fiz meu leito de promessa
um coração da batucada honesta
se pra melhor eu passo dessa
na bravata de um figurão comovido

Refrão
Sou quotidiano vagabundo
gingado miúdo e sentinela
tamborilando meu destino
fui afinado em dó "teatino"
malandro tem toda cautela
do verbo é a rosa na lapela
arrepio o cangote feminino
vou quotidiano vagabundo

ALMA DE MORFINA

Malmequer demove
se a seus olhos estou aquém
querer bem demanda
é saber amar para se ir além

Bem-me-quer comove
sonhos feitos de grão em grão
querer vão comanda
é dor que arrebata um coração

Malmequer explode
se afago é da mão que espalma
querer bem exclama
é ventura o que se traz na alma

Bem-me-quer acode
vozes ávidas pelo mesmo tom
querer vão aclama
é o despeito se achando o bom

Malmequer recobre
se o prazer consumar vertigem
querer bem recama
é desejo amiúde de boa origem

Bem-me-quer descobre
corações perfeitos no vendaval
querer vão descama
é da solidão em pleno carnaval

Refrão
Não sigo nada sério
nem mensagem na garrafa
e o ópio da vida esfumaça
a vontade do moço

não vejo nada certo
nem coragem no comparsa
é o medo exibindo a chaga
na varanda do povo

no ópio do corpo refina
morfina da alma vitrina

TIRO CERTO

Verso
Sei que você não sorri
mesmo depois da chuva
dispersa mágoa por aí
sofrendo que nem viúva

sei que o amor foi cruel
e que só fez machucar
não basta tirar o chapéu
se há tristeza no olhar

sei que ficou no cavaco
que desceu das tamancas
cavou o próprio buraco
levando fé no que banca

Refrão
No deserto do Saara
o cachorro lambe a cara
fica esperto pelo caminho
é malandro tiro certo
faro fino e olho aberto
chega junto só no focinho

Verso
Sei que você vai dizer
quer o amor de verdade
porque querer é poder
nos braços da felicidade

sei que o tempo passou
e o samba virou canção
a calma jamais segurou
no pandeiro do coração

sei que a vida é maneira
para quem sabe viver
quer descansar a caveira
agora me diga porque

CONSTELAÇÃO VAGA-LUME

Astro-rei deixa o alto
toma a terra de assalto
vem passar o verão

dorme bicho-preguiça
minha estrela noviça
agora é bicho-papão

já o meu dente de alho
tira um ás do baralho
é Nosferatu e ladrão

e a galáxia tem ciúme
constelação vaga-lume
pousa na minha mão

sarambeque mecânico
parou o trem oceânico
entre quatro estações

terra-mãe é alto astral
braço forte e imortal
devorando os leões

já o meu pé-de-coelho
serve como conselho
boa sorte as nações

o universo tem ciúme
constelação vaga-lume
são nossos corações

Hemisfério Senhor
água pura deixa a sede beber
hemisfério Senhor
fogo certo sem medo de errar
hemisfério Senhor
vento nobre desperta sem ver
hemisfério Senhor
terra nova onde a vida passar


SUAVE DELÍRIO

Verso
Cada dia é um improviso
largo sorriso ao bem querer
pela grandeza do universo
inocência como o sucesso
venha com flores a oferecer
a fim de perder seu juízo

Refrão
Só nós dois vamos pro céu
com a graça do Bom Senhor
hoje o Criador dá um rolê
amanhã sei que Deus é fiel
traz o coração num beija flor
rouba meu segundo de fé
inconteste, divino ou cruel
coube então morrer de amor
em vez do açúcar no café

Verso
Mas o dia é um improviso
suave delírio ao amor perfeito
todas as formas podem ser
ilusões ao nosso bel prazer
sincero o desejo pede respeito
a fim de acordar o paraíso

Refrão
Só nós dois vamos pro céu
com a graça do Bom Senhor
hoje o Criador dá um rolê
amanhã sei que Deus é fiel
traz o coração num beija flor
rouba meu segundo de fé
inconteste, divino ou cruel
coube então morrer de amor
em vez do açúcar no café

Um banquinho e um violão
também pedem seu sorriso
se quem canta é o coração
ao suave delírio do juízo

BENDITO JOÃO-NINGUÉM

João trabalho é bendito
rompe a folga
convoca o dia e lá se vai
grão de areia é inaudito
nessa romaria
urbana há poeira demais

João horário é rotina
é coletividade
suor informal na avenida
fé no asfalto termina
traga o capital
e salve a terra prometida

Refrão
e agora João
com seu pé de feijão
pode ter, pode dar se o tempo deixar
sem demora João
e toma jeito de São
pode ser, pode estar é saber esperar

João-ninguém tem razão
João-ninguém tem razão

Verso
João salário é alforria
quando chega
pequeno para vos libertar
onde há barriga vazia
deleite sereno
poder a família alimentar

João calvário é destino
santa realidade
do João-ninguém racional
e desaparece o menino
restou o amém
não há previdência social

DIÁRIO DA MADRUGADA

Verso
Ouço a voz da consciência
espertos brincam atrás do muro
óculos vão cobrir olhos escuros
no dia seguinte ninguém sabe

farejo o lapso de memória
prendo o grito de independência
sinto acabar com a concorrência
antes que ela mesma se acabe

Refrão
carrego comigo a bandeira do bom senso
não me abalam estes tempos hiper-tensos
ao final das contas a poeira vai baixar
levo nove vidas jogadas aos quatro ventos
chega à vez e o ano pra me declarar isento
e comer a sobremesa na sala de jantar

Verso
desenho o mapa da mina
e um oceano noturno a navegar
tranqüilizantes para me ancorar
no mergulho da madrugada

qualquer hora é o dia D do diabético
aguardar na zona de ataque epilético

qual é o preço do remédio genérico?
qual é a crença no lucro estratosférico?
qual é o hospício para o pit bull histérico?
qual é a fórmula secreta da Coca-cola?
qual é o segredo de ficarmos sem escola?
qual é a chance de aumentar nossa esmola?

qualquer hora é o dia D do diabético
aguardar na zona de ataque epilético

CARAVELA NUMA BOLHA DE AR

Verso
Quem poderá saber
se o perdão nos faz falta
que o forró vem à tona
como um efeito sanfona
até o passado de volta

quem dera proteger
em tua mão, tua escolta
tua própria redoma
é a caravela do sintoma
suba à bolha mais alta

quem agüenta viver
e ganha pra não roubar
sabe o pulo do gato
de quem calça o sapato
e astuto sobe a rampa

quem cola pra valer
é na medida da tampa
e sai batendo panela
não vai deixar seqüela
nasceu pra incomodar

Refrão
A caravela flutua numa bolha de ar
na energia das ondas, na calmaria do mar
no perigo das sombras, no aviso do olhar
tripulantes a bordo: se a bolha furar, o céu vai naufragar

verso
quem saberá nascer
com um fio de cabelo
já penteia a moleira
pra não fazer besteira
quando abrir os olhos

quem ensina a fazer
põe a barba de molho
eis mais um lunático
sem material didático
propiciando atropelos

O SAMBA E O BEIJA-FLOR

Vai brotar dentro do peito
o coração do amor-perfeito
se o cravo ficar com a rosa

vai trazer tudo o que deve
ao faça chuva ou faça neve
entre o laço de fita mimosa

vai rever carta e telegrama
com carinho de quem ama
e se enrolar no cachecol

vai sentar na arquibancada
a vida feita de mãos dadas
pra esperar o pôr-do-sol

vai sobrar o que faz falta
no brilho da estrela peralta
abrigar seu filho ao nascer

vai tocar seu cavaquinho
pra ninguém viver sozinho
há o que fazer e acontecer

vai mariscar a confiança
no salva-vidas da esperança
âncora da sorte e do amor

vai repicar seu tamborim
e ensaiar o samba no jardim
pra conquistar o beija-flor

Refrão
Teremos a liberdade de ir e vir
contra a corrente, precisamente
ao sabor do vento precisa tento
e todas cabeças vão rolar de rir
a favor do vento, contra a maré
liderar a fé em busca do talento

CINDERELA FEITO LUVA

Só você
alimenta estrelas pagãs
comedida luz da aurora
minha seleta de prazer

só você
abriu a porta da manhã
consentindo-se senhora
anfitriã do bem querer

só você
colírio em doces retinas
a primavera sem espinhos
o coração a florescer

só você
qual iguaria mais divina
faz do almoço um carinho
e alimenta meu viver

só você
sincero anjo sem alarde
inspira o moço na vitrina
a conquistar e proteger

só você
obra e desejo pela tarde
algodão-doce olá menina
no hálito do entardecer

só você
flor preciosa de ternura
na apologia dos amantes
Cinderela venha ser

só você
cai a noite bem madura
em nossa alma itinerante
repousa o anoitecer

Refrão
Coubeste em mim feito luva
como se tudo fosse lua
como se tudo fosse sol
cobrir a rua em nosso lençol

ACABOU O GÁS (Para Soteropolis)

Lá vou eu na esquina
vestindo cara de doido
ressurgi aos pedaços
e corri para o abraço
pleiteando meu botijão

lá vou eu na avenida
a maré Joana Angélica
se tanto o dia esfarela
os machos e donzelas
saem em primeira mão

lá vou eu na água-viva
o maremoto abriu o sinal
é ver se ganho meu dia
na entrada da Mouraria
sem gás e sem refeição

lá vou eu sob medida
bom apetite e fome-zero
à esquerda do escargot
a feijoada se organizou
pra cobrar seu quinhão

lá vou eu numa figa
brasileiro on the rocks
é resistente ao barulho
parei no Dois de Julho
agora dono da situação

Refrão
acabou o gás, acabou o pão
acabou a paz e veio a solidão
acabou o gás, acabou o pão
acabou o rapaz, veio cidadão

se repartíssemos o pão e amássemos mais
estaríamos com todo gás
se repartíssemos o pão e amássemos mais
estaríamos com todo gás


ROSÁRIO DE PEDRAS

Não me afirme
não me peça a opinião
acima do muro
há dois lados no chão

não me previna
não me sirvo ao acaso
antes do futuro
há onipresente atraso

não me segure
não me estenda a mão
alívio inseguro
de incerta compaixão

Refrão
Pedra sobre pedra
e o caminho no ar
o céu cai por terra
a caminho do mar
professar ao fogo
rosário de pedras

não me acalme
não me aplique injeção
a dor e o medo
esperam por diversão

não me decifre
não irá me decodificar
afeto e segredo
só Deus sabe guardar

não me perdoe
não me basta contrição
ao gosto azedo
sobremesa é salvação

Refrão
Pedra sobre pedra
e o caminho no ar
o céu cai por terra
a caminho do mar
professar ao fogo
rosário de pedras

A BOLSA OU A VIDA

O peso dos anos com dores
nas pernas pretende passar
soníferos seres humanos na
bat-caverna resolvem ficar

os meses disparam lorotas
milenares da última semana
e calotas polares disputam
lugares de calotas cranianas

na fraqueza da alma
na pobreza de espírito
fé que ofende a paz
ou que gera o conflito

no busto afiançado
no custo-benefício
proteção aqui jaz
avante o sacrifício

os comes e bebes de sempre

milhões de dólares
dispostos a morrer por Cristo
milhões de dólares
dispostos a morrer por Cristo

a bolsa ou a vida
a vida após a morte
o corte e a ferida
a cicatriz sela o corte

é a bolsa ou a vida
a vida na corda bamba
o samba ou a saída
iça a corda e a caçamba

os comes e bebes de sempre

quem sabe redimir
quem sabe perdoar
quem deve reagir
e atirar pra matar

PINTANDO O SETE (Para Chico Buarque)

Não pedi pra nascer
mas cuida-me acreditar
que a roda-viva da vida
sabe como me levar

não fiz por merecer
mas posso compensar
cantando coisas ainda
faço a banda passar

não jogo pra perder
mas prometo arriscar
amor é causa perdida
se deixar de ganhar

Refrão
Deixe o povo saber
que vim para ficar
que vim só a você
deixe o povo falar
deixe o vento varrer
sete anos de azar
sete dias só você
deixe o vento soprar

deixe o barco correr
e depois navegar

não nasci pra sofrer
nem gosto de apanhar
seu corpo me faz falta
pare de me castigar

não me fiz entender
nem me cabe explicar
tendo samba na pauta
e alguém para amar

O CAVANHAQUE

O cavanhaque está na cara do sujeito
é a imagem e semelhança do respeito
o cavanhaque deixa o rosto diferente
e já não lembra como era antigamente

o cavanhaque é o retrato do desleixo
é a vaidade do nariz até o queixo
o cavanhaque não vai parar de crescer
agora é tarde para se arrepender

Refrão
bem apanhado
lá vem o homem-macaco
bem aparado
lá vai o bicho-da-seda

o cavanhaque está na foto do jornal
é a primitiva mata-atlântica tropical
o cavanhaque já é coisa de cinema
quando roça no pescoço da morena

o cavanhaque no rosto do bon-vivant
é uma festa sob um cobertor de lã
o cavanhaque é o mais novo desafio
faz-se a barba e o bigode por um fio

Refrão
bem apanhado
lá vem o homem-macaco
bem aparado
lá vai o bicho-da-seda

homens de fraque
postiços feito o Mandrake
deuses de araque
deuses de araque

PENTELINO BOM MENINO

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom menino
cuida bem dos animais
até mesmo do suíno

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom rapaz
deu travesseiro pra morta
e ela descansa em paz

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom partido
vai casar com a galinha
pra comer ovo cozido

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom de briga
apanha como cachorro
e corre feito rapariga

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom menino
cuida bem dos animais
até mesmo o babuíno

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom demais
faz churrasco de felino
para o Rei dos animais

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom de boca
pra comer e pra reclamar
que a comida era pouca

Pentelino, Pentelino
Pentelino bom garoto
escapou do xilindró
e fugiu pelo esgoto

SACRO SAMBA

Refrão
O meu samba não garoa
o meu samba é chuva boa
aguardente pra semente
o meu samba não garoa
o meu samba é chuva boa
água-benta da tormenta

eu quero sair de fininho
com a viola no saco
aparece um cavaquinho
é festa no meu barraco

eu quero na voz afinada
sem dar preferência
a prece da boa batucada
a ginga por excelência

Refrão
o meu samba não garoa
o meu samba é chuva boa
aguardente pra semente
o meu samba não garoa
o meu samba é chuva boa
água-benta da tormenta

não sou galo do terreiro
porém pago pra ver
quem segura o pandeiro
e vai até o amanhecer

não sou de engolir sapo
e nem abro exceção
com a melodia do trapo
alinhavo nova canção

Repete - Refrão

pela morena que eu amo tanto
por estar só aos seus encantos
pelo canto em noite de pranto
por este samba ao sacrossanto

ORAÇÃO CONDICIONAL

Louvado seja
se a chuva que goteja
ainda beija o chão

louvado seja
se lábios de cereja
procuram confusão

louvado seja
se a corda que arpeja
corteja o violão

louvado seja
se os sinos da igreja
dobram uma canção

louvado seja
se a mão que apedreja
receber punição

louvado seja
se a alma que boceja
desperta o coração

louvado seja
se sobrar na bandeja
pão, circo e diversão

louvado seja
se não faltar cerveja
e arroz com feijão

Refrão
Recicle o descartável/ recuse imitações
logrado seja
adote o miserável/ oculte intenções
logrado seja
dê vida ao rebanho/ comida aos leões

logrado seja com seus botões
mas livrai-nos do mal e das boas intenções
logrado seja com seus botões
mas livrai-nos do mal e das boas intenções

FEITO A MÃO

Hoje a mão brotou a rosa
banhada em ouro e prata
a estrela-serenata
que o universo acolheu

mas não teceu a prosa
bordada em luz e sombra
exorciza e assombra
que a magia se perdeu

hoje a mão cobriu o canto
vestindo louvor e graça
o soberano comparsa
que a melodia escolheu

mas não calou o pranto
nutrindo dor e ausência
solidão-efervescência
que o tempo percebeu

Refrão
Então
fica tudo como está
cada coisa em seu lugar
olerê, olará

Hoje a mão deu a poesia
jurando amor e liberdade
à lírica majestade
que a inspiração recebeu

mas não parou a folia
juntando sorte e acaso
flores no mesmo vaso
que o destino ofereceu

Refrão
Então
fica tudo como está
cada coisa em seu lugar
olerê, olará

Ofício Cadência Visceral



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ANTES DO FIM

Cada dia é um dia livre
para quem quiser partir
trilhar novos caminhos
ou simplesmente ir

cada dia é um dia certo
para o que nós temos feito
e se o tempo for escasso
faremos do mesmo jeito

cada dia é um dia a mais
para os sonhos que virão
com ares de independência
de uma nova geração

Refrão
Quero pousar em seu quintal
com asas feitas de cetim
do nosso encontro até o final
será legal e sempre assim
quero pousar antes do fim
antes do fim, até o final

cada dia é um dia justo
para abolirmos preconceitos
e nós que temos a tarefa
faremos do nosso jeito

cada dia é um dia nobre
para quem sabe perdoar
e nós que somos boa gente
há tanto pra recomeçar

Refrão
Quero pousar em seu quintal
com asas feitas de cetim
do nosso encontro até o final
será legal e sempre assim
quero pousar antes do fim

MUXINGA NORDESTINA (Para a Cultura do Povo Nordestino)

Verso
Só vim morar na praia
espraiar o meu coração
é no bê-á-bá da gandaia
onde brota a inspiração

só vim beber da fonte
no horizonte do sertão
dum povo rinoceronte
faz das tripas coração

tem que fazer
um gostoso rebuliço é sarará meu bom mestiço
do batuque-compromisso e desvelado cidadão
o ioiô, o ioiô, o ioiô é o sarapatel de noviços
fervilhando impertinente reorganiza a confusão

Refrão
Quem quer sorrir quer voltar a ser feliz
diz a torcida organizada
quem quer um bis quer amar e ser feliz
pestanejou com a bordoada

Verso
Só vim em pleno carnaval
os quitutes do mestre Gil
Caetano e enfim Dorival
menestréis do meu Brasil

só vim ter o pôr do sol
no arrebol do nordeste
e hoje eu canto em prol
de todo "cabra da peste"

tem que dizer
a cultura do meu canto serve para o seu espanto
multiplica o acalanto um chote, xaxado ou baião
o ioiô, o ioiô, o ioiô é o cordel da embolada
que alivia o desencanto dentro do meu coração

Refrão
Quem quer sorrir quer voltar a ser feliz
diz a torcida organizada
quem quer um bis quer amar e ser feliz
pestanejou com a bordoada

RELÓGIO DA REVOLTA

Verso
Nós que oramos calados
entre os dedos cruzados da fé
se até a voz do povo controlam
pois nem mais de Deus a voz é

nós que pagamos o pato
também financiamos o mico
pro circo manter os palhaços
que levam suas vidas no bico

acorde cedo
para encobrir os erros
vá desencanar o medo
no pingo de honestidade

acorde seco
como num tiro certeiro
dar respostas ao enredo
é interesse ou amizade?

Refrão
Se compadece
tudo acontece em volta
do relógio da revolta
no ponteiro da razão

Se amanhece
tudo esclarece em volta
do relógio da revolta
no horário de verão

Verso
nós que engolimos a seco
o que a mídia nos dá de comer
um banquete servido aos ratos
somos gratos por nos perverter

sobra fermento
no alimento da esperança
e a gente então se cansa
é o não fazer por merecer

QÜIPROQUÓS

O insensível "três oitão"
soberba violência escarra
eis a Nossa Senhora Loba
e são quarenta coronhadas
rasga o peito e vale tiroteio
escolta a leoa hemorrágica

prole ou proletariado
um pouco de tudo que
é pouco pra nós, aqui é
ter um vírus hereditário
dissemina depois arrasa
pobre casa do proletário

Victor ou incógnita
o idiota não tem escolha
seja feita a vossa vitória
o fantoche deve se eleger
falso receio é quando os
meios justificam o poder

faça seguro de vida
pague o suicídio até o final
a morte descansa no caixão
mas o custo é sobrenatural
e no comércio além-túmulo
os vivos lucram em silêncio

balbúrdia ou solidão
é o movimento dos "sem-dó"
no porão do individualismo
na frágil sombra do cinismo
almas penadas aos "cocorocós"
chocam um ovo por diversão

o ser humano está nu
defecam em sua privacidade
bem-vindo homem-sanitário
ao carcerário mundo virtual
se entregue sem integridade
rindo com as calças na mão

carunchos da inanição
flagelam outro recém-nascido
indiscretos comem nosso lixo
nosso bicho em decomposição
serve na hierarquia da miséria
o prato mais fundo do descaso

Viagra ou bicho de pé
na ciência a serviço do coito
virilidade também se fabrica
queira molhar vosso biscoito
e se há tenra carne de mulher
o tesão é a pura água da bica

no torcicolo de idéias
existem múltiplas distorções
fazem de tudo com a verdade
o crime aguarda recompensa
porque não restam soluções
só há liberdade de imprensa

nós somos cegos
nós somos surdos
nós somos mudos
não opinamos
não escutamos
nós aceitamos a escuridão
nós somos povo
nós somos raça
nós somos caça
não abatemos
não segregamos
nós perdoamos de coração

DITA A LEI (SEXO, DROGAS & PALAVRÕES)

Nossos vícios na esquina
nossos gritos a flor da pele
ninguém aprende o que vovó ensina
nossas mentiras não enganam mais

há mais que um sonho de menina
há o inferno até que o mundo gele
ninguém entende o que vovó ensina
há pouco tempo para um bom rapaz

nem o céu para um ultraleve
nem o exército que se aproxima
o dollar prepara a fé lá em cima
e a elite caça onde não deve

Refrão
Dita a lei, USA
como ocultar segundas intenções
dita a lei, USA
teleguiar a discórdia entre nações
dita a lei, USA
respire: sexo, drogas & palavrões
is this american way?

nosso perigo ainda é o Brasil
nosso destino livre do conflito
ninguém a bordo dos seus navios
nossa coragem abandona o mar

há mais que o medo do desafio
há um calendário para o infinito
ninguém a bordo dos seus navios
há muito petróleo se alguém faltar

nem o umbigo do fanatismo
nem o prostíbulo imperialista
o poder acolhe outro estadista
e o povo prega o terrorismo

OS TAMBORES CARDÍACOS

Verso 1
Eu vejo sombras ao meu redor
não tenho sonhos, eu tento esquecer
que a maioria sempre foi menor
e o homem sábio é o último a saber

eu tenho medo, mas não tenho dó
não tenho nada para lhe oferecer
já a minoria sempre é bem maior
e o homem cego perde-se ao ver

eu vejo luzes nas grandes cidades
quando o abraço diminui a poluição
quando aumenta nossa ansiedade
e a humanidade entra em depressão

eu tenho tempo, mas não tenho fé
não me conformo com religião
não me consola quando estou a pé
Deus virá logo pela contramão

Verso 2
risque o fósforo dos preconceitos
anjos em brasa andando nos trilhos
não há justiça onde se vê defeitos
e alguém engole pra não escarrar

risque o fósforo do conformismo
pirão sem gosto servido aos porcos
falta atitude onde sobrar cinismo
e ninguém mais pedir pra vomitar

Refrão
restos mortais, descansem em paz
no sonho maníaco do homem barbado
restos mortais, descansem em paz
os tambores cardíacos estão enfartados
em sonâmbulos corações
em sonâmbulos corações

MÃO Á PALMATÓRIA

Nem tudo o que reluz é ouro
nem tudo o que seduz é louro
nem mesmo tem o que se gosta
nem todo mundo vira as costas

nem tudo o que se perde se acha
nem toda Xuxa tem sua Sacha
nem tudo o que se ganha é pão
nem mesmo tem uma explicação

eu troco o disco da vida inteira
por bons minutos de imperfeição
como quem compra uma geladeira
à primeira vista, de segunda mão

nem tudo o que se aprende é útil
nem tudo o que se acende é fútil
nem pense em fugir de casa
nem todo o fogo arde em brasa

nem tudo o que se mira é alvo
nem Jesus Cristo quis ser salvo
nem tudo corresponde aos fatos
nem mesmo cobras e lagartos

eu jogo os dados da juventude
nas longas rotas chegar ao futuro
como quem muda suas atitudes
para não dar com a cara no muro

Refrão
ninguém entende o que nos aproxima
ninguém entende o que nos aproxima
sem dar a mão à palmatória
ninguém entende o que nos aproxima
ninguém entende o que nos aproxima
sem dar a mão à palmatória

afinal de contas é o fim da história
afinal de contas é o fim da história

DA ORDEM NO CAOS

Há ordem nos céus
vivemos em paz
os lobos de guerra
não sangram heróis

tem bolero de Ravel
Piazzola me traz
novidades da terra
labirintos e lençóis

há ordem no caos
pois te amo demais
somos a nova era
bandos e bandeiras

tem valsa de Strauss
passeio em Alcatraz
a bela surte a fera
com boas maneiras

Refrão
ninguém quer manter a ordem
ninguém quer manter o caos
subverter o caos em desordem

há ordem nas horas
driblando minutos
buscando teu rosto
em águas passadas

purgamos a mora
extraímos o bruto
o céu está disposto
não devemos nada

Refrão
ninguém quer manter a ordem
ninguém quer manter o caos
subverter o caos em desordem

MÚSICA DE RESISTÊNCIA

Use o "Brasil-colônia"
numa loção após séculos
há décadas de insônia
Amazônia mora ao lado

fale a "Hora do Brasil"
cale os "Anos de Chumbo"
a boca pequena varonil
diz o milagre censurado

e se é coisa do passado
era o velho "Estado Novo"
o cadafalso para a glória
no calabouço da história
há quem tema pelo povo

e se o risco é calculado
era o cântico subversivo
o bálsamo para o medo
no bastardo do degredo
há quem tenta ficar vivo

Refrão
minha boca é um túmulo
leio teus lábios feito louco
no cemitério de aparências
irão nos enterrar aos poucos

minha prece é um insulto
sigo tua ordem feito bravo
num cenário de resistência
já nascemos como escravos

verso
siga a família operária
quanto desdém industrial
preso a ânsia libertária
sobram dedos calejados

e se é coisa do passado
era o "Milagre Econômico"
o heroísmo programado
no egoísmo orquestrado
há o "leão transamazônico"

REALIDADE CLANDESTINA

Verso 1
Pelos dólares de quem sofre
dispensei as chaves do cofre
armei o circo por um vintém

sonhei um verso sem estrofe
escondido atrás do apóstrofe
ao poema-desatino caiu bem

quanto é que se pode amar
quando se está inadimplente
quando é impossível pagar
quanto mais cobrar da gente

para o notebook do vampiro
há litros de sangue-antivírus
encaro dowloads novamente

a mira do hacker clandestino
deletou nosso sorriso cretino
e por religião é ser descrente

quando é que iremos notar
quanto o coração é acessível
quanto se permitiu acessar
quando tudo era permissível

Verso 2
o clã destinado ao clandestino
o fã na miragem do fanatismo
e cenas da próxima home-page

a moral lesada do moralismo
as sete imagens do ceticismo (os sete pecados capitais)
no novo cd de música new-age

Refrão
Graham Bell atende o celular
inteligência artificial
Graham Bell desliga o celular
realidade clandestina

SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA

Larguei de mão
euforia e depressão
se fizer parte do problema
sabotar é a solução

larguei de mão
nicotina e alcatrão
se fizer parte do esquema
enfisema faz verão

larguei de mão
misticismo e religião
se tudo é parte do sistema
intriga da oposição

larguei de mão
cafezinho e chimarrão
se tudo é parte do fonema
tenha boa digestão

Refrão
Há precisão cirúrgica
e analgésica paciência
tranqüilidade sedativa
síndrome da abstinência
há causa e conseqüência

larguei de mão
a escada e o corrimão
se sobe e desce é o dilema
inércia do coração

larguei de mão
realidade e ficção
se tudo isso é um teorema
na eterna confusão

Refrão
Há precisão cirúrgica
e analgésica paciência
tranqüilidade sedativa
síndrome da abstinência
há causa e conseqüência

DE VOLTA A CIVILIZAÇÃO

Passei o final de semana
comigo dentro de casa
debaixo da própria asa
e além da imaginação

Segunda na biga romana
a fatalidade dita e feita
acima de toda suspeita
de volta a civilização

um diamante solitário
lapidando o coração
segue o dia no horário
a noite é pura ficção

Refrão
Pra que voltar, pra onde ir
se não me deixam falar
nem querem me ouvir

Passei a limpo à memória
tinha o coração na mão
contraindo em tentação
na paciência de existir

sem vez é caça predatória
quando tiroteio explode
e o viaduto nem sacode
pela tangente é só sair

um diamante solitário
lapidando o coração
terá o ódio hereditário
ou amor de imitação

Refrão
Pra que voltar, pra onde ir
se não me deixam falar
nem querem me ouvir

pague pra entrar, reze pra sair
de volta a civilização
pague pra entrar, reze pra sair
de volta a civilização

OVERDOSE HOMEOPÁTICA

Ilustres desconhecidos
"Demônios da Garoa", "Anjos do Asfalto"
trindade de salto alto
a verdade nos ouvidos

provérbios inflamáveis
cortina de fumaça e ogivas de papel
tríade em lua-de-mel
usam olhos reviráveis

hipocrisia programada
a era da inocência, o pecado original
trilogia do ato sexual
castigo, cruz e espada

Refrão
Última dose, uma dose a mais
o que te ilude e o que te move
primeira dose, dose as demais
o que te sobra numa overdose

vozes velozes numa overdose
vozes velozes numa overdose

overdose homeopática
laços de amizade ou rotas de colisão
triunfo ou destruição
nova cruzada catártica

sanguessugas no jantar
verdade seja dita, mentiras no jornal
tribos em tempo real
e kamikazes vão ao ar

Refrão
Última dose, uma dose a mais
o que te ilude e o que te move
primeira dose, dose as demais
o que te sobra numa overdose

vozes velozes numa overdose
vozes velozes numa overdose

JOGOS DE AZAR

Cruze os dedos
de braços cruzados
ao cruzar o sinal
é bife mal-passado

vale quanto pesa
não vale um centavo
validade expirada
é trabalho escravo

vista a camiseta
despido de pudores
Mefisto a olho nu
invertendo valores

Refrão
Ledo, ledo engano
medo é um segredo mano a mano
ledo, ledo engano
das horas que entramos pelo cano

desça do pedestal
flutue em ascensão
satélite invisível
controla a situação

atire a sangue frio
no calor da emoção
cupido psicótico
vergasta o coração

espere um minuto
não chegue atrasado
encare o absurdo
de olhos vendados

Refrão
Ledo, ledo engano
medo é um segredo mano a mano
ledo, ledo engano
das horas que entramos pelo cano
ledo, ledo engano
e o erro permanece sendo humano

ATMOSFERA CARNÍVORA

Eu saio pela tangente
eu jogo conversa fora
eu banco o adolescente
e oro fora de hora

eu crio expectativa
eu deixo de ir embora
eu gasto toda saliva
e oro fora de hora

eu mato no cansaço
eu morro se demora
eu corro para o abraço
e oro fora de hora

Refrão
Deuses eternos, simples mortais
bater no peito é saber se existe
ossos do ofício, prazeres carnais
valem o direito que me assiste

eu saio de circulação
eu entro na atmosfera
eu peço com educação
e era as vezes de fera

eu alimento ilusões
eu nasci na primavera
eu sigo lendo Camões
e era as vezes de fera

eu ganho experiência
eu sei o que me espera
eu vivo em evidência
e era as vezes de fera

Refrão
Deuses eternos, simples mortais
bater no peito é saber se existe
ossos do ofício, prazeres carnais
valem o direito que me assiste

VINHETA BÉLICA

Desarme o silêncio
com palavras de ordem
sal a gosto da hora
vira abril e vai embora

dispare hiper-tenso
com rajadas no estoque
amargo da demora
vide bula em boa hora

desastre a contento
com adagas em choque
a verdade apavora
em caixas de Pandora

Refrão
Crianças crescidas
suas cobras criadas
um paraíso perdido
seus pés e pegadas
tatuagem preferida
em edição limitada

destrua o consenso
com armamento pesado
nossa face dispara
ao coração do Sansara

de lua o sentimento
como um beijo roubado
vale uma jóia rara
diga adeus minha cara

Refrão
Crianças crescidas
suas cobras criadas
um paraíso perdido
seus pés e pegadas
tatuagem preferida
em edição limitada

VINHETA URBANA

A chama de luz eterna
o salto na escuridão
o passo maior que a perna
baderna por diversão

a água que virou vinho
o amor que vira ódio
os cegos pelo caminho
daninho que leva ao pódio

a hora que não passa
o sono que não vem
o riso perdeu a graça
a praça, o sol também

a cara e a coragem
o pouco mais que nada
o excesso de bagagem
triagem da madrugada

Refrão
Um por todos, cada um por si
cada um na sua e todos por um
tudo isso vale, nada vive disso

A orelha de Van Gogh
o olho do furacão
stray cats e hound dog
incógnita em cognição

a partida silenciosa
"O Retorno de Jedi"
o dedo a mais de prosa
ociosamente se vai

a esmola por caridade
o lucro a qualquer preço
o fim e a falsidade
verdade feita de gesso

a beira do precipício
o pico do Himalaia
artefato e artifício
oficio e maracutaia

VINHETA POPULAR

A história se repete
o flashback a revelar
o carrasco é manchete
a sentença é popular

a tarifa se aumenta
o dever gera imposto
o progresso alimenta
a piada de mau gosto

ao vivo e a cores
o jardim virá concreto
e nada são flores

Refrão
No campo de batalha
há mortalha juvenil
e por vezes a navalha
nos deixa por um fio

na zona de combate
há o abate cidadão
na sangria se debate
a vil idade da razão

Verso 2
a memória se apaga
o blackout é maioria
o discurso se propaga
a promessa contagia

a verdade se oculta
o vexame se admite
o operário vai a luta
a miséria não existe

ao vivo e a cores
são efeitos colaterais
de todas as dores

VINHETA PÓS-MODERNA

No solar do lunático
o celular supersônico
o diabo é bombástico
no inferno plutônico

acabe com a retórica
tudo é descartável
na chuva meteórica
de lixo reciclável

no código genético
da própria criação
olho gordo dietético
cega lipoaspiração

acabe com a libido
tudo é informação
na troca de fluídos
da globalização

Refrão
Vidas que se vão
vezes três virão
vozes em verão
invernos da visão

No andar da carruagem
o mundo se oculta
os pixels da imagem
na etérea catapulta

acabe com o intuitivo
nada é espontâneo
no princípio ativo
do orbe contemporâneo

Refrão
Vidas que se vão
vezes três virão
vozes em verão
invernos da visão

LÉGUAS DE EXTINÇÃO (Para a Cultura do Povo Gaúcho)

Tal qual animal no pasto
lastro meus versos com pés no chão
tal qual animal no pasto
rastro imerso em léguas de extinção
tal qual animal no pasto
casto e perverso rumino a mansidão
tal qual animal no pasto
repasto disperso da infértil evolução

a pampa é pobre
mas o campo é vasto
bastando o dono
para tanto pasto

abanda os cobres
e traz mais um regalo
perturba o sono
o cantar do galo

bonjour
pequenos colapsos
grandes destroços
mil ossos ou mais
bonjour
escroques ao maço
ilustres os nossos
sestrosos animais

a terra é mansa
mas a posse é bruta
privatiza o filho
que não foge à luta

amarra a trança
pára mais um pealo
coloca no trilho
sem pisar nos calos

au revoir
amigos do peito
balaço nas costas
opostas à classe
au revoir
péssimo defeito
virtude é suposta
aposta e orar-se

tão puro o animal no pasto
tão páreo o mortal nefasto

PERSONA NON GRATA

Uma noite mal-dormida
uma história mal-contada
perfeita pra contar

uma paixão mal-sucedida
uma mulher mal-amada
perdida para amar

um dever malquisto
um prazer mal-domado
pré-pago pra gozar

um pierrô malvisto
um zorro mal-encarado
preto pra mascarar

e uma bala perdida
no décimo oitavo andar
um certo mal-estar

a porcelana retrata
persona non grata

o bem não amanhece
tampouco o pôr-do-sol
o Guaíba é tiro certo
estilham luzes no farol

e o mal não apodrece
tampouco o Taj Mahal
com sede no inferno
mais um paraíso fiscal

bonum et malum non solus est
in alter vitae momentis
líber homus non confidat in se
atque valia accipientis


e uma bala perdida
no décimo oitavo andar
um certo mal-estar

a porcelana retrata

persona non grata

NAVALHA NA CARNE

Dá-me um berço
para dormir em paz
para dormir demais
nesse mundo voraz

dá-me um beijo
para passar a dor
para passar amor
o filme de horror

e nada vai mudar
tudo finda diferente
o freezer no lugar
de seu corpo quente

e tudo cai do galho
nada resta ao chão
as gotas de orvalho
as bolhas de sabão

é olhar a si mesmo
buscar-se distante
Narciso no espelho
é belo e arrogante

sacrificar o gado
apontar e sangrar
aqui do meu lado
e pra lá de Bagdá

o toque de Midas
o pomo de Adão
o canto do cisne
os calos na mão

e o indo-europeu
o afro-americano
o sangue de Cristo
o corpo humano

a sobrecarga do super-homem
é a sobrevida do sobrenome

INFLAMÁVEL

Tudo se repete
no momento seguinte
do dia vinte de cada mês

tudo tete a tete
nos quintos do requinte
a alameda do acinte, 666

tudo se dissipa
na fumaça de acessos
ao excesso de informação

tudo sobe pipa
o zepelim do progresso
no universo em expansão

Refrão
O cotidiano é exagero
mensagem instantânea
combustão espontânea
e nasce um novo dia

Verso
tudo se projeta
na paisagem artificial
do cartão-postal perfeito

tudo pela dieta
do próximo nu frontal
o juízo final virá ao leito

Refrão
O cotidiano é exagero
mensagem instantânea
combustão espontânea
e nasce um novo dia

coivara dança caxambu
na gafieira da refinaria
coivara dança caxambu
na gafieira da refinaria

OLHOS AQUILINOS

A mesa está posta
nossas bocas tão famintas
nossas mãos sujas de tinta
e a pintura nada vale

a falta de resposta
nossas bocas são malditas
nossas mãos tocam aflitas
e a tortura nada sabe

a chaga já exposta
nossas bocas convencidas
nossas mãos tão proibidas
e a censura nada age

a águia pousou

não basta ser herói
ter visão de raio-x
no mundo de cowboys
diante do nariz

não basta ser poeta
ter as luzes de Paris
no escuro da floresta
diante do nariz

a águia voou

Refrão
Outra viagem etérea
em terceira dimensão
meia passagem aérea
para a alma e a razão

uma vida antimatéria
sem ter tido gestação
meia passagem aérea
para outra dimensão

SOBERANO CORAÇÃO (Para a América livre da ALCA)

Refrão
Nosso povo
todo povo latino americano
caminhando para a conscientização
nosso povo
bravo povo latino americano
soberano será cada coração

Verso
América com liberdade
cada segundo conquistar
o brado contra o imperialismo
é dever do povo proclamar

América com dignidade
aprenda a nos respeitar
"soberania não se negocia"
está em primeiro lugar

Refrão
Nosso povo
todo povo latino americano
caminhando para a conscientização
nosso povo
bravo povo latino americano
soberano será cada coração

Verso
América politizada
no compromisso de mudar
economia independente
é um patrimônio popular

América unificada
um bom lugar para morar
respeitando nossa gente
com liberdade prosperar

Ofício Áudio Sideral



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NAMORADINHO DA MAMÃE

Verso
Mamãe casou e separou
mas não deixou de me amar
e foi seu olhar que me ninou
paparicou o seu xodó

se na garganta der um nó
ao conhecer seu namorado
o ciúme calado a provocar
mamãe é o meu fim

fico calminho até passar
com o Brad Pitt de Guarujá
quero o abraço mais sincero
e ter seu carinho só pra mim

Refrão
Café na cama com todo amor
acho que sou seu pão francês
café da mama pra me acordar
desde o primeiro ao nono mês
agora você é a bola da vez
o namoradinho da mamãe

Verso
mamãe saiu pra namorar
talvez jantar e ir ao cinema
fiquei em casa com a babá
atormentado pra valer

posso brincar de esconder
quando crescer virar rebelde
mas se tiver algum problema
mamãe cuida de mim

levanto com o pé direito
no jeito eu não torço o nariz
pois mamãe merece ser feliz
junto ao seu novo namorado


LUZ DEL FUEGO

Fogo
fogo doido, lunático
fogo fátuo, fogo fuleiro
fogo
fogo fogueira, fogo luzeiro
fogareiro, fogo prático
fogo
fogo louco, labareda
fogaréu, fogo inteiro
cinza
fogo morto, apagado

lamparina é veste viva
verte vida e aquece o olhar
piromancia a chamuscar
o desejo nosso de cada dia

o fogo arde por inteiro
fumegando meias verdades
incendiando formalidades
aos pontapés na burocracia

coivara dança caxambu
império em chamas e Nero leva a fama
coivara dança caxambu
carcará que engana e o inferno inflama
coivara dança caxambu
o circo do fogo adverte:
pirotecnia na corda bamba
no sopro de outra guerra santa

REALITY SHOW

Tolos desejos conscientes
que se esborracham no chão
torpes num sonho demente
belo presente do mundo cão

todos corpos são carentes
e aqui jazem em tentação
torpes ficam pra semente
inocentes só na plantação

tolos mastigam os dentes
afiando a língua na nação
torpes governam pra gente
reincidentes em corrupção

todos somos delinqüentes
aguardando voz de prisão
torpes olhos de serpentes
condizentes com a traição

tolos usam entorpecentes
para a própria combustão
torpes algemas da mente
expoentes da aniquilação

todos aguardam pacientes
clamando sua ressurreição
torpes perversos doentes
prepotentes como religião

será que estamos atentos
aos próprios pensamentos?

Refrão
Tire um coelho da cartola
seja real ou seja mágico
faça a diferença na escola
tire a poeira da cachola
seja leal ou seja sábio
faça a realidade à sua moda

escolha sua própria ilusão
escolha sua própria ilusão

DE TUDO UM CORPO

Quero um pouco preencher o vazio
quero um corpo sem entrar no cio
quero um pouco preencher o vazio
quero um corpo sem entrar no cio

corpo que não queima
frígido imodesto
pouco que se entenda
sirva-se do resto

corpo que não cheira
inodoro artefato
pouco mais se venda
menos ao olfato

quero um pouco é incendiar o frio
quero um corpo sem perder o brio
quero um pouco é incendiar o frio
quero um corpo sem perder o brio

corpo que não queira
desejo insensato
pouco que se aprenda
cria-se o contato

corpo que não teima
declinadas frases
pouco mais se renda
tudo faz as pazes

quero um copo a beber o vazio
quero um copo a beber o vazio

O ESPECTRO DO SUPEREGO

um caminho até aqui
um caminho até aqui
um passo em falso e os cobertores
aprisionam-me ao chão
entre as trevas e o travesseiro ter a
coberta de razão

no instante que perdi
no instante que perdi
no fim do arco-íris um carro-forte
acerta meu ponto fraco
entre as pernas e o passageiro siga
confuso e opaco

e o espectro a colidir
e o espectro a colidir
e o sopro da vida livra o unicórnio
da extinção mitológica
entre as feras e o forasteiro usa-se
instinto e lógica

ser sozinho a digerir
ser sozinho a digerir
ser a luz e a sombra a envergarem
da última casca de noz
entre as eras e o herdeiro saboreio
o póstumo após

e no infinito logo ali
e no infinito logo ali
e no lado escuro da lua ao retalhar
ancestrais do superego
entre as gestas e o justiceiro estiro
no ser que nego

Refrão
Doutor míope
onde estão os anos e os meses
Deus ciclope
onde está o milagre da gênesis
Doutor míope
onde está a maravilha genética
Deus ciclope
onde estão as réplicas e a ética

MEA CULPA

Na hora da zona morta
o sangue sem direção
Nosferatu como castigo
estaca no coração

eclipse atrás da porta
cárcere espiritual
flores sobre o jazigo
quiróptero ritual

Mea Culpa - Diabolum Cruce
Mea Culpa - Diabolum Cruce


na falta do sono eterno
o sofrimento imortal
execrável mundo novo
sepulcro ocidental

penumbra traz o inverno
vultos pelo caminho
sobre as asas do corvo
coroa de espinhos

Mea Culpa - Diabolum Cruce
Mea Culpa - Diabolum Cruce


na face oculta da alma
o caos e a imperfeição
grotesco sinal se faz
etérea aberração

bastardo serve da calma
devora a iniquidade
solidão fria e voraz
natimorta realidade

Mea Culpa - Diabolum Cruce
Mea Culpa - Diabolum Cruce


a monotonia do silêncio
permanece em seu lugar
a monotonia do silêncio
permanece em seu lugar

THE LAST NEPHILIM

Wake up
fallen angel, son of sin
unholy soul of Seraphim
deadly fate is in your skin

a black angel's seed
brings the sorrow and misery
to the new born child
that the beauty will never see

a broken life's code
is the price of human heart
sentinel take this soul
till the heaven do us apart

Refrain
So let the wings be your guide
till the home of Benei-Ha-Elohim
leaving the land of your crimes
end of times to the last Nephilim

a sign in four faces
shows the mirror of the flash
the love of a woman
makes the reign turns to ash

a celestial inquisition
lead the demons to the dock
two hundred angels
as the holy secrets of Enoch

Repeat - Refrain

Rise with the legions of dawn
Rise with the legions of dawn

O ÚLTIMO NEFILIM

Acorde
anjo caído, filho do pecado
alma profana do Serafim
o destino mortal está em sua pele

uma semente do anjo negro
traz a tristeza e a miséria
para o recém-nascido
que a beleza nunca irá ver

um código de vida quebrado
é o preço do coração humano
sentinela leve esta alma
até que o céu nos separe

Refrão
Então deixe as asas serem seu guia
até a morada dos "filhos dos deuses"
deixando a terra dos seus crimes
fim dos tempos para o último Nefilim

um sinal em quatro faces
mostra o espelho da carne
o amor de uma mulher
faz o reino virar cinza

uma inquisição celestial
guia os demônios para o banco dos réus
duzentos anjos
como os santos segredos de "Enoch"

Repete - Refrão

Suba com as legiões do amanhecer
Suba com as legiões do amanhecer

THE PACT OF THE WOLVES

There's a beast into the woods
there's a blood path in its jaws
another victim for the priests
and the religion of evil laws

skillful man fight with magic soul
wise man speak with knowledge
the wolves don't have to be guilty
for these lives on the razor's edge

hounds in the haze
brave wolves in the distance
madmen in this maze
to kill for the king of France

Refrain
Gevaudan is calling for you
rise your sword in unmerciful fight
to free the spirit of the truth
and the wolfheart at full moonlight

The village waits a bloody secret
the dark man controls the beast
for cruelty and an incestuous love
the cripple disappears in the mist

skillful man dies with his belief
wise man reborn with his revenge
to destroy this circle of tyrants
as a hostile spirit will go to avenge

devil rest in defeat
to punish the sins of nobility
made of metal and meat
forged in a time of impunity

O PACTO DOS LOBOS

Há uma besta dentro das florestas
há um caminho de sangue em suas presas
outra vítima para os padres
e a religião das leis do mal

o homem hábil luta com alma mágica
o homem sábio fala com conhecimento
os lobos não devem ser culpados
por estas vidas no fio da navalha

cães de caça na névoa
lobos valentes na distância
homens loucos neste labirinto
para matar pelo rei da França

Refrão
Gevaudan está chamando por você
levante sua espada em luta impiedosa
para libertar o espírito da verdade
e o coração do lobo à luz da lua cheia

A vila aguarda um segredo sangrento
o homem sombrio controla a besta
por crueldade e um amor incestuoso
o aleijado desaparece na névoa

o homem hábil morre com sua crença
o homem sábio renasce com sua vingança
para destruir este círculo de tiranos
como um espírito hostil irá vingar

demônio jaz em derrota
para punir os pecados da nobreza
feitos de carne e metal
forjados em um tempo de impunidade

MATRIARCA ETÉREA CENTURIAL

Sigo indócil esse mundo
amém quatro paredes
quatro estações da vida
cada qual sem verdes
palco à infâmia biocida
do conluio nauseabundo

corsário dos ecossistemas
proscrito retorna ao lar
a negra mácula se arrasta
da índole ao vasto mar
e ao vento da orla nefasta
a poluição finou teoremas

augusta e graciosa biosfera
litanias bastam por hora
ao ventre da mãe-natureza
no afável sabor d'aurora
um hálito de divina beleza
perpetuando a vindoura era

solilóquio do ego mundano
guia o corredor ecológico
estuário da prima sagração
crótalos do arroto ilógico
dever em sensorial eclosão
envergar seu jugo humano

melopéia do uso sustentável
anfitriã do insigne manejo
panacéia chancelada á biota
com louros de um cortejo
ordeiros da galhardia ignota
limando o bravio indomável

carcinoma do obscurantismo
dilacera o verdor ambiental
espargindo em fétida toxina
ao colibri o motejo outonal
a pilhéria carvoenta vaticina
inenarrável infausto cinismo

Sigo infrene nessa esfera
cadafalso da existência
o arcabouço da jactância
cônscio dessa anuência
invoco o mel da infância
espelhar a ciência severa

bólido das gemas paridas
altivo truísmo planetário
traz o patrimônio natural
no articulador voluntário
é supernova educacional
às falcatruas sucumbidas

úberes entranhas terrenas
lousa do prudente ofício
amanha grão e semente
lépida burla o interstício
traga o roto impenitente
soergue a alameda serena

vigor primaveril inviolável
desagrilhoada fulgência
retorna do oco subterrâneo
viriliza em sua essência
para os biótipos litorâneos
exuberarem ao memorável

solário do incólume recurso
liberto do lúgubre daninho
a fauna, a flora e o coração
o apogeu traz seu caminho
soberbo tropel da perfeição
ao materializar seu discurso

derrocando a concupiscência
vil peçonha d'alma humana
que ao goto tece a mordaça
eis o templo virar choupana
eis o séqüito tornar carcaça
à eterna glória da onisciência

Sigo ingente o torvelinho
espólio da tórrida vindita
ao Asmodeu do Vesúvio
urde o bolor cosmopolita
da iniqüidade ao dilúvio
o lancinante descaminho

umbral do céu nosocomial
alquebrado sítio ecológico
incapaz do extremo pranto
míngua o afã imunológico
às vísceras fel e quebranto
das harpias ao bojo inicial

jazigos copulam indulgência
à camarilha pende o terror
desterrando a asnice senil
ressemeia em arauto labor
inumado ao corpo varonil
o atestado de incompetência

o vitupério à mãe-natureza
insânia estética e sanitária
quão pérfido mercantilista
exulta a ânsia embrionária
messe predatória e sofista
aquinhoando tenra avareza

sanções exaram composição
reparando o torpe arruinado
peia de um poderio ofensivo
ao platô do bosque vicejado
lugar arbóreo de ornato vivo
quintessência do verde chão

cornucópia de íntimo louvor
racha o cancro do botulismo
é chispa de soluço inglório
empanzinada de borborismo
da vanglória ao mercatório
insta curvada pelo agricultor

Sigo inato o heliocêntrico
na odisséia do intimorato
ao ventre da engrenagem
pivotante de um orfanato
que o burgo da paisagem
obsta do olho egocêntrico

bruma de incauta alvorada
no abrigo dos desvalidos
ingresso da cripta ventral
o santuário não corroído
luminária de brando sinal
cortejando a hora chegada

rochedo excelso da rebelião
baliza onde líderes ousam
embevecem o intenso brio
bravura aos que repousam
vigor bélico sobre o fastio
jubilando o mérito da nação

clarim de vanguarda nativa
insurreição fora deflagrada
voraz toma o mar territorial
brado cívico pede a espada
ao destripar a fúria patronal
lava o sangue da alma viva

climatério de ilustres órfãos
sanha descomunal incontida
é quasímodo hemorroidário
assolando as veias remoídas
tombado o pólo reacionário
perpetua a vindima aos sãos

engenho do lúcido progresso
abóbada da pujante virtude
salvo conduto da vegetação
nutrir em célebre plenitude
faz da animália a libertação
o corolário do amor confesso

Sigo imune o firmamento
potestade à força motriz
a vergastar o raquitismo
no prumo traçado de giz
ao embotado ineditismo
do brumado de sarmentos

esplêndida mata atlântica
a cortesania das encostas
no paço da vida silvestre
o manguezal é rica posta
do paladino álveo mestre
sai o poeta e a semântica

valiosa rainha amazônica
biodinâmico ser celestial
é silvícola ou tupiniquim
diversidade finda natural
pulmonária mãe sem fim
guarida de raiz sardônica

barbárie capitalista abarca
contágio da globalização
o desdém cruza o equador
tão espúria é sua missão
se o rebotalho cobre a flor
o lucro é fútil a quem arca

penhasco da zona costeira
idílico na grandiloqüência
aos organismos marinhos
mago da rochosa essência
que o pescador ribeirinho
segue em ronda pesqueira

bosques do vale imponente
auriverde sopro majestoso
insubordinado patriotismo
amparo ao sêmel vigoroso
solapando o determinismo
o neopopulismo consciente

Sigo invicto o tirocínio
escaramuça quixotesca
do estadista democrata
ora verborréia grotesca
é da sociocracia infrata
zombaria ao raciocínio

vilipêndio multinacional
privatização alienígena
é o colosso adormecido
cioso berçário indígena
despertando estarrecido
do extermínio ambiental

mamífero noto absenteísta
legado certo aos onívoros
porém avícolas titubeiam
répteis arejam herbívoros
dos crustáceos saboreiam
ao retroverto passo ateísta

monera campânula abissal
sustentáculo dos oceanos
reluzindo a estrela d'alva
peixes internos sopranos
um recital a âncora salva
tonificando seu manancial

onírica araucária florestal
potência da íntegra casta
serve a noite que orvalha
e o firme tronco se basta
alhures a volver fornalha
converte ao ciclo original

indômita natura centurial
coronário da magnitude
o clamor arroja ousadia
fomentar novas atitudes
um baluarte à soberania
áurea profecia matriarcal






A TRAVESSA ESCRIVÃO ERNANI BRASIL





MAFALDA



BISÃO









MÁRIO QUINTANA E LEINAD LISARB






ROCKELEPÊLÂNDIA










MUTANTES










MARCELO ROMERO E LEINAD LISARB





LOLITA / ANNY / JOSÉ













THE OSCAR GOES TO

Já Que Níquel Sou

Estive Em Marte

Mete Demo

Quer Vim Encoste Né

Roubei Dá Nó Junior

Ande Garcinha

A Rir Só Um Forte

Tome Lhe De Homens

Martinho e As Cor Cinza

Francês Fode Copo Lá

Estalei Com o Brique

Roubei Em Ilhas

Dei e Vim De Carro Andando


João Mal Com o Vítor

Tênis Roupa

Mal Com Mal que Doe

O Ú De Alien

Cristo Fé Ali

O Mar Xerife

Uma Turma

Mia Ferro

Mar Lê No Dia Triste

Age Ali Na Jô Ali

Ele Não Borra Carta